Em contraste com os carnavais mediáticos das grandes urbes, muitas aldeias e vilas transmontanas mantêm as suas tradições do Entrudo, fiéis aos rituais do ciclo de Inverno, de raízes medievais, e que hoje são o retrato vivo de uma civilização rural que teima em sobreviver na região.
Nos rituais dos mascarados, executados no decorrer das festas do Ciclo do Inverno no Nordeste Transmontano, dois aspectos - aparentemente antagónicos – o sagrado e o profano, o cristão e o pagão, se tocam, se misturam e se confundem.
O mascarado constitui a figura central, em torno da qual toda a acção festiva se desenrola. Desempenha, por isso, os mais variados papéis, os que são essenciais na organização e animação e que conferem sentido e significação à própria festa. Passando por uma metamorfose esotérica, torna-se um ser transcendente, mágico e profético, assumindo, concomitantemente, funções de sacerdote e diabo, lembrando os mortos e criticando os vivos, impondo aos demais o respeito da ordem e colocando-se ele próprio acima das normas sociais e morais instituídas e tomando para si todas as liberdades próprias de quem está acima de tudo e de todos.
Desfiles diabólicos de “caretos”, “matrafonas” e “facanitos”, leituras de “testamentos” (ou “papeladas”), “julgamentos públicos” e “pulhas casamenteiras” são o que perdura de mais genuíno das tradições do Entrudo em Trás-os-Montes…
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